A cirurgia estereotáctica apresenta-se como uma promessa e
pode ser útil em certos casos. Contudo é muito importante
abordá-la como qualquer outro procedimento cirúrgico com um
considerável respeito, cuidado e até cepticismo. É sempre
preferível ter uma conversa difícil antes, do que depois de um
tratamento!
É importante o relato sobre estas questões, para que se possam
melhorar os conselhos para o caso seguinte. Dê a conhecer à
VHL Family Alliance como as conversas com os médicos o
ajudaram. Que mudanças teria feito? O que faltou? Como se
poderia alterar o tom da conversa? Esta chamada de atenção não
pretende ser alarmista, mas apenas dar espaço a que médico e
doente examinem todas as possibilidades num momento prévio.
Aqui estão alguns dos pontos a que dar atenção e as questões a
colocar:
- Recolher várias opiniões. Recomendamos vivamente que
consulte um médico experimentado duplamente na
micro-neurocirugia convencional e na cirurgia
estereotáctica. Não é suficiente falar apenas com um
oncoradiologista ou alguém que só esteja familiarizado com gamma
knife. Se não conseguir encontrar um especialista em ambos,
assegure-se que consulta um especialista do outro método e ouve a
sua opinião. Em muitos casos é mais seguro abordar o tumor através
da cirurgia convencional. É retirado, definitivamente, e o tecido
poderá ser examinado ao microscópio, sendo o período de recuperação
mais previsível. Claro que a cirurgia convencional também apresenta
riscos e consequências, por isso é que se torna necessária uma
equipa médica para ajudar o doente a avaliar de uma forma fiável os
prós e contras dos vários procedimentos, decidindo qual é a melhor
abordagem naquele caso concreto e naquele momento.
- Qual o tamanho do tumor? Há recomendações para NÃO
tratar um hemangioblastoma maior do que 2 a 3 centímetros no
máximo. O tamanho não é a única, mas é umas das questões
importantes. Como o Dr. Nauta descreve, trata-se de saber com que
precisão se consegue focar os limites da radiação. É como querer
abrir um buraco com um vidro potente e a luz do sol. Para fazer um
pequeno buraco, pode-se focar o feixe de raios num pequeno ponto e
utilizar menor radiação. Mas para um buraco maior, há que focar um
espaço maior e o raio será menos concentrado, obrigando a utilizar
uma maior radiação para o efeito. O tumor absorve mais energia e
encolhe mais após o tratamento.
- Qual a localização? Uma vez tratado, o tumor e os
tecidos adjacentes vão inchar (edema). Isto significa que o tumor
tratado vai aumentar antes de diminuir e dependendo do espaço
existente para se expandir, os sintomas podem piorar antes de haver
melhoras. Em que posição está o tumor? Quando inchar, que sintomas
podem surgir? Como se propõe o médico controlar o inchaço? Como pode
a própria pessoa cooperar com a equipa médica para minimizar o
inchaço e atravessar o período de inchaço? É de notar que o período
de inchaço não será de dias mas de meses. Convém perguntar ao médico
qual é a expectativa de tempo para o período de inchaço.
- Quais são os perigos para os tecidos circundantes? Em
condições normais haverá uma margem de tecido saudável que ficará
também submetido às radiações com a dosagem terapêutica. Que margem
de tecido será essa? Que danos poderão ocorrer? Se o tumor estiver
numa posição junto do líquor, há alguma margem de erro, mas se for
num ponto crítico, então os efeitos no tecido saudável podem ser
significativos.
- Quantos tumores se propõem tratar? Qual a quantidade de radiação
a que será sujeito? Se há mais do que um tumor a tratar, será
aconselhável tratá-los ao mesmo tempo? O edema simultâneo de vários
tumores não causará perigo? Será preferível tratar cada um a seu
tempo? O intervalo entre os tratamentos pode ser decisivo para
tolerar o edema pós-tratamento.
- Que medicação se propõe o médico ministrar no
período pós-intervenção? Já antes tomou estes medicamentos?
Podem testar-lhe a uma possível sensibilidade à medicação
antes do tratamento, para prevenir uma reacção adversa? Os
piores problemas com cirurgia estereotáctica tem surgido por
intolerância à medicação.
- Que experiência tem a equipa médica no
tratamento de hemangioblastomas relativamente a outros tumores
sólidos? Os hemangioblastomas reagem de forma diferente aos
tratamentos com radiações. É importante o médico ter
experiência com tratamento de hemangioblastomas para que
estude e organize o plano de tratamento antes do seu
início. Se não encontrar um especialista dessa área, há que
procurar segunda opinião. Aliás, a própria equipa médica
deverá recomendar este procedimento tanto para protecção do
doente, como da própria equipa.
Dora Resende Alves