Considerações sobre cirurgia estereotáctica

A cirurgia estereotáctica apresenta-se como uma promessa e pode ser útil em certos casos. Contudo é muito importante abordá-la como qualquer outro procedimento cirúrgico com um considerável respeito, cuidado e até cepticismo. É sempre preferível ter uma conversa difícil antes, do que depois de um tratamento!

É importante o relato sobre estas questões, para que se possam melhorar os conselhos para o caso seguinte. Dê a conhecer à VHL Family Alliance como as conversas com os médicos o ajudaram. Que mudanças teria feito? O que faltou? Como se poderia alterar o tom da conversa? Esta chamada de atenção não pretende ser alarmista, mas apenas dar espaço a que médico e doente examinem todas as possibilidades num momento prévio.

Aqui estão alguns dos pontos a que dar atenção e as questões a colocar:

  1. Recolher várias opiniões. Recomendamos vivamente que consulte um médico experimentado duplamente na micro-neurocirugia convencional e na cirurgia estereotáctica. Não é suficiente falar apenas com um oncoradiologista ou alguém que só esteja familiarizado com gamma knife. Se não conseguir encontrar um especialista em ambos, assegure-se que consulta um especialista do outro método e ouve a sua opinião. Em muitos casos é mais seguro abordar o tumor através da cirurgia convencional. É retirado, definitivamente, e o tecido poderá ser examinado ao microscópio, sendo o período de recuperação mais previsível. Claro que a cirurgia convencional também apresenta riscos e consequências, por isso é que se torna necessária uma equipa médica para ajudar o doente a avaliar de uma forma fiável os prós e contras dos vários procedimentos, decidindo qual é a melhor abordagem naquele caso concreto e naquele momento.

  2. Qual o tamanho do tumor? Há recomendações para NÃO tratar um hemangioblastoma maior do que 2 a 3 centímetros no máximo. O tamanho não é a única, mas é umas das questões importantes. Como o Dr. Nauta descreve, trata-se de saber com que precisão se consegue focar os limites da radiação. É como querer abrir um buraco com um vidro potente e a luz do sol. Para fazer um pequeno buraco, pode-se focar o feixe de raios num pequeno ponto e utilizar menor radiação. Mas para um buraco maior, há que focar um espaço maior e o raio será menos concentrado, obrigando a utilizar uma maior radiação para o efeito. O tumor absorve mais energia e encolhe mais após o tratamento.

  3. Qual a localização? Uma vez tratado, o tumor e os tecidos adjacentes vão inchar (edema). Isto significa que o tumor tratado vai aumentar antes de diminuir e dependendo do espaço existente para se expandir, os sintomas podem piorar antes de haver melhoras. Em que posição está o tumor? Quando inchar, que sintomas podem surgir? Como se propõe o médico controlar o inchaço? Como pode a própria pessoa cooperar com a equipa médica para minimizar o inchaço e atravessar o período de inchaço? É de notar que o período de inchaço não será de dias mas de meses. Convém perguntar ao médico qual é a expectativa de tempo para o período de inchaço.

  4. Quais são os perigos para os tecidos circundantes? Em condições normais haverá uma margem de tecido saudável que ficará também submetido às radiações com a dosagem terapêutica. Que margem de tecido será essa? Que danos poderão ocorrer? Se o tumor estiver numa posição junto do líquor, há alguma margem de erro, mas se for num ponto crítico, então os efeitos no tecido saudável podem ser significativos.

  5. Quantos tumores se propõem tratar? Qual a quantidade de radiação a que será sujeito? Se há mais do que um tumor a tratar, será aconselhável tratá-los ao mesmo tempo? O edema simultâneo de vários tumores não causará perigo? Será preferível tratar cada um a seu tempo? O intervalo entre os tratamentos pode ser decisivo para tolerar o edema pós-tratamento.

  6. Que medicação se propõe o médico ministrar no período pós-intervenção? Já antes tomou estes medicamentos? Podem testar-lhe a uma possível sensibilidade à medicação antes do tratamento, para prevenir uma reacção adversa? Os piores problemas com cirurgia estereotáctica tem surgido por intolerância à medicação.

  7. Que experiência tem a equipa médica no tratamento de hemangioblastomas relativamente a outros tumores sólidos? Os hemangioblastomas reagem de forma diferente aos tratamentos com radiações. É importante o médico ter experiência com tratamento de hemangioblastomas para que estude e organize o plano de tratamento antes do seu início. Se não encontrar um especialista dessa área, há que procurar segunda opinião. Aliás, a própria equipa médica deverá recomendar este procedimento tanto para protecção do doente, como da própria equipa.

Dora Resende Alves