Com uma detecção a tempo e tratamento apropriado, há hoje mais esperança para as famílias com a Doença de Von Hippel Lindau do que em qualquer outra época. Através do relato da história clínica da sua família, cada indivíduo poderá dar uma ajuda significativa aos médicos para identificar os familiares de risco, diagnosticar a sua doença cedo e assim contribuir para uma melhor saúde.
A maioria das pessoas pensará que as doenças genéticas são
raras. Apesar de ser verdade que cada uma das 5.000 doenças genéticas
é relativamente rara, no seu todo acabam por ser bastante
comuns. Inúmeras pessoas sofrem de problemas devido, no todo ou em
parte, a genes ou cromossomas defeituosos. As doenças genéticas são
muito mais prevalentes do que se pensa genericamente, tal como
demonstram as seguintes estatísticas:
Acima de tudo, reconhece-se hoje em dia que os maiores problemas de saúde e causas de morte em adultos - diabetes, doenças cardíacas, variadas doenças do foro psicológico e alguns tipos de cancro - todos apresentam uma componente genética significativa. Obviamente, então, todos nós temos um papel fundamental a desempenhar na investigação, na área da genética humana. Felizmente, essa investigação atinge já horizontes brilhantes nunca sequer sonhados, pela geração anterior, como possíveis. Quase não se passa um dia em que não se leia nos jornais ou revistas a notícia sobre uma nova descoberta ou inovação. Pode mesmo dizer-se que se assiste a uma revolução no nosso entendimento da genética humana. E estes novos desenvolvimentos trazem consigo a promessa de reduzir a prevalência de anomalias genéticas, melhorando e prolongando a vida das vítimas. De entre os mais recentes progressos: mais e melhores exames para diagnósticos pré-natal; tecnologia melhorada para assegurar a vida dos doentes graves e recém-nascidos com deformações e aumentar a expectativa de vida dos atingidos por anomalias genéticas; e a capacidade de levar a cabo exames na população em geral para identificar os portadores dos genes prejudiciais.
Esta revolução genética já afecta a vida de cada um de nós,
mesmo sem disso termos noção. O médico de família, ao indagar
sobre a história da saúde familiar de cada paciente, desde que
doenças teve na infância ou se os pais ou avós sofreram de
diabetes ou de uma doença do coração, passou a alargar o
registo médico com perguntas sobre as origens étnicas, datas e
causas de morte de cada um dos quatro avós, e sobre que
doenças sofreram os diversos parentes.
Um número cada vez maior de pessoas bem formadas começa a
procurar compilar informações sobre a sua própria árvore
genealógica e potenciais riscos de saúde presentes.
Uma nova genética humana tem vindo a revolucionar a
investigação médica. Começa a fornecer informação precisa
sobre quem será mais vulnerável a determinado tipo de doenças
e quem deve evitar determinados agentes exteriores
potenciadores. Ajuda já os investigadores a criar medicamentos
mais eficazes e com menos efeitos secundários e permite
renovar os conhecimentos sobre a função reguladora dos genes
no crescimento e desenvolvimento humano, do início ao fim da
vida.
Doenças graves tais como doenças cardíacas, cancro e
esquizofrenia, cada uma delas provavelmente envolvendo
variados genes, são demasiado complexas para transigir nos
seus segredos, mesmo com os novos testes e terapias
sofisticadas. Contudo, algumas doenças multi-genes?? podem ser
prevenidas ou atenuadas por meio de medicamentos ou por
manipulação do estilo de vida ou outros factores externos. À
medida que os cientistas descobrem o factor de risco genético
de certas doenças, as pessoas que ficam a saber da sua
susceptibilidade podem reduzir as probabilidades de contrair a
doença pela simples alteração de aspectos específicos do seu
comportamento e ambiente circundante. Na medida em que a
investigação avança, os médicos são capazes de ajudar milhões
de pessoas a prevenir ou controlar doenças hereditárias,
incluindo doenças que só nas últimas décadas foram
identificadas como tal.
O médico assistente de cada família detém importantes
instrumentos e informações para alcançar diagnósticos precoces
e administrar tratamentos para doenças genéticas, mas o seu
sucesso no tratamento de cada caso concreto vai depender em
larga medida da assistência fornecida pelo próprio doente ao
relatar-lhe os seus antecedentes familiares de saúde. Porém,
poucas pessoas poderão fornecer ao seu médico um resumo eficaz
da saúde familiar, apenas porque eles próprios detêm um
reduzido conhecimento dos dados da sua genealogia de saúde. Se
os avós faleceram antes do seu nascimento ou durante a sua
infância, uma pessoa pode não ter qualquer ideia sobre as
doenças que lhes causaram a morte, e os testemunhos dos
familiares podem ser parciais ou não inteiramente correctos. A
maioria de nós não tem conhecimentos suficientes da história
médica dos parentes - mesmo que sejam irmãos ou irmãs. Até
porque conhecer a causa da morte pode nem ser suficiente - ela
pode constar da certidão de óbito do avô como "velhice", e
haver um passado de diabetes ou artrite, que podem ter sido a
causa do declínio da sua saúde.
Determinar uma ligação genética para uma doença pode
demonstrar-se complexo, especialmente quando é herdada através
de um gene recessivo. Os indivíduos afectados com uma doença
recessiva poderão muitas vezes não encontrar padrão ou
precedente da doença na história familiar. Enquanto alguém
pode não manifestar sintomas de problemas médicos
relacionados, mas a sua esposa for também portadora do gene
recessivo, então a doença pode manifestar-se nos filhos ou
aparecer nos netos, se as esposas dos filhos também forem
portadoras do gene recessivo.
Muitas anomalias de desenvolvimento, defeitos de nascença e
processos patológicos parecem simplesmente ser "de família"
sem serem associados a riscos fortemente recorrentes
previsíveis. Estas desordens são etimologicamente referidas
como características "multifactoriais" porque dependem de
vários factores, tanto genéticos como do meio envolvente.
Os defeitos cromossómicos incluem outra classificação de
defeitos genéticos. Alguns podem ser transmitidos com uma
recorrência de alto risco e só poderão ser identificados
através de um estudo cromossómico do indivíduo afectado e de
alguns familiares para determinar quais os elementos não
afectados mas capazes de transmitir a anomalia.
Em doenças ligadas ao sexo (relacionadas com o cromossoma X),
as características do padrão genealógico de transmissão são um
ou mais dos elementos masculinos afectados em várias gerações
relacionados com mulheres portadoras aparentemente normais -
pessoas que podem transmitir uma doença genética aos filhos,
mas que não estão elas próprias doentes. A hemofilia é um
exemplo deste tipo de doenças relacionadas com o cromossoma
X. As mulheres portadoras apresentam um risco de 25 % de ter
filhos homens afectados e todas as filhas mulheres serão
necessariamente portadoras do gene. Ainda assim, há algumas
estruturas familiares em que o gene foi transmitido através de
várias mulheres não afectadas e, por sorte, não foi herdado
pelos seus filhos.
Dora Resende Alves